Uma viagem rumo à tradição, às emoções, à descoberta de tudo aquilo que está longe no nosso dia a dia, mas tão perto quando partimos à descoberta: assim é a Honda N2 Roadtrip. Um despertar para uma realidade que só existia para alguns e que queremos provar que continua a ser de todos os nós.
O início da viagem
Atingimos mais de meio caminho da nossa missão final e deixámos a capital do nosso país rumo à capital do Norte: o Porto. Definimos que, a partir de agora, esta cidade será o nosso ponto de partida para as missões que nos faltam. Recebemos na cidade Invicta o Daniel Espírito Santo, vindo de Peniche, a Raquel Almeida, representando Setúbal, o Rui Farinha, de Vila Nova de Gaia e o Jorge Alves, de Miranda do Douro.
Os olhos estavam todos no mapa e no trajeto que nos esperava. Há muito que já nos habituámos a uma partida abençoada pela chuva, pelo que o nosso ânimo pela descoberta nunca desaparece, mesmo que o tempo seja propício para o contrário. Assim, sintonizámos o rádio na nossa frequência preferida e demos a ordem ao nosso GPS: “leva-nos até Pedrógão Grande”.
Por entre os vales perdida: a Ponte Filipina
Pedrógão Grande soube renascer com uma graciosidade impressionante. O verde volta a irromper por entre o negro das montanhas e deixa-nos adivinhar que, a partir desse momento, tem tudo para ser ainda melhor.
O nosso primeiro destino tinha um nome curioso e sabíamos que era protegido por entre os vales do Rio Zêzere. Devíamo-nos desviar de Pedrógão Grande e descobrir Pedrógão Pequeno para encontrarmos a entrada para esta verdadeira maravilha. Aí, passando um posto de abastecimento, encontra-se escondida a entrada que nos leva até à Ponte Filipina. Não se assustem com o caminho: o estreito levará a vossa viagem até um dos locais mais belos que vimos até hoje. A descida ainda demora alguns minutos, mas são muitos os pontos que exigem que parem o carro e saiam para apreciar a paisagem.
A Ponte Filipina é, hoje em dia, Património Nacional. Foi construída entre 1607 e 1610, durante a dinastia filipina, encontrando-se em perfeito estado de conservação. Até 1954, data em que a Barragem de Cabril foi inaugurada, serviu como travessia de Pedrógão Pequeno a Pedrógão Grande. A ponte está envolvida numa belíssima paisagem verde.
Tenham cuidado no regresso. Houve apenas a necessidade de invertermos a marcha em direção a Pedrógão Pequeno novamente, devido ao percurso a seguir à ponte estar bastante danificado e não permitir a total travessia até à Igreja de Nossa Sra. Dos Milagres. Para quem gostar de trilhar os vários caminhos a pé, encontrarão várias ofertas de trilhos prontos a serem conhecidos.
Os encantos da Serra da Lousã: Talasnal
Se a Estrada Nacional 2 esconde vários encantos, as vias envolventes oferecem uma grande fonte de percursos e locais alternativos a serem conhecidos, prontos a enriquecer ainda mais a vossa descoberta pela histórica N2. Por isso, desviámo-nos da nossa via principal e permitimo-nos partir à descoberta das incríveis Aldeias de Xisto, bem escondidas no interior da Serra da Lousã.
Aqui terão várias opções: Aigra Velha, Aigra Nova, Candal, Cerdeira, Chiqueiro, entre tantas outras. A nossa escolha recaiu para a aldeia do Talasnal, onde a Taberna do Sr. Joaquim nos aguardava com os seus potes de Chanfana e os doces de castanha.
O Talasnal tem atualmente apenas dois habitantes a tempo inteiro. As casas, que têm vindo a ser recuperadas segundo os exigentes padrões para que a aldeia se mantenha genuína, servem, na sua grande maioria, para turismo.
O Sr. Joaquim Lourenço, proprietário das Montanha de Amor do Talasnal contou-nos sobre os rebanhos comunitários que antes existiam para sobrevivência das populações. As casas tinham apenas duas divisões. Os antigos habitantes trabalhavam o ano anterior na venda de cabras e cabritos, vivendo de tudo o que a terra dava.
Talhar a madeira com o coração
Depois de conhecermos o Talasnal, esperava-nos em Góis alguém muito especial: o Sr. José Cerdeira, um artesão. Nasceu em 1933 na aldeia de Casalinho de Baixo. Passou por inúmeras profissões até chegar àquela pela qual agora é reconhecido: a de artesão.
Recebeu-nos em sua casa de porta aberta, com a família toda à espreita. A dona Alzira, sua esposa, era a que se mantinha mais atenta a tudo. Levou-nos até à sua oficina, dividida em três secções: na primeira sala é onde trabalha a madeira e onde tem todos os seus utensílios. Mostrou-nos com orgulho o presépio no qual está a trabalhar e os inúmeros diplomas que já recebeu de participação em feiras e exposições, ao longo dos seus 30 anos nesta arte.
Na segunda sala, transformada no seu pequeno museu, encontrámos as mais variadas peças: moinhos, bonecos, animais, casas de homenagem a Góis. Cada peça mais surpreendente do que a outra. E depois a terceira sala, e aquela que nos levou a descobri-lo, a das máscaras. Começou a criá-las há mais de 20 anos. Qualquer material serve para as construir, mas são as de cortiça que nos roubam a atenção. Estas são a peça central do Entrudo das aldeias de Góis e o Sr. José é o único artesão que ainda as constrói.
O bom humor do Sr. José faz-se acompanhar de uma explicação exímia de tudo aquilo que já fez e de como gostava de ter um local onde pudesse expor todas as suas peças.
O primeiro dia terminava de alma cheia e foi com um sorriso nos lábios que regressámos ao hotel aguardando por um segundo dia tão emocionante quanto o primeiro.
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