Quando Lourenço Marques ainda não era Maputo, os caminhos enchiam-se de incríveis automóveis clássicos. O que pertencia à minha família era, nada mais nada menos, do que um Honda S600.
A Herança de Nampula: Honda S600
Mudámo-nos para Moçambique ainda pequenos, à procura da vida melhor que por lá se prometia. Eu e o meu irmão, éramos o rosto da felicidade ao sol e nas nossas idas à praia, mesmo quando o tempo parecia tropical, sentíamos que Nampula era a nossa casa.
O meu irmão decidiu tirar a carta de condução e insistiu com a minha família para lhe oferecerem um automóvel. Quando entrou na universidade, em Lourenço Marques, para premiar o seu esforço e incentivá-lo a regressar mais vezes a casa, os nossos pais enviaram-lhe de Portugal, de barco, um Honda S600, de 1973.
Em todas as voltas que dávamos, o Honda S600 estava presente. As mais divertidas eram as idas à praia em tempo de chuva, e o desvio das poças de água na estrada era uma enorme aventura.
Um dia, recebemos a notícia de que o meu irmão não poderia terminar os seus estudos em Lourenço Marques, pois precisávamos de regressar a Portugal. Agora sei que trazer o Honda S600 foi a maior alegria no nosso regresso a Portugal, pois, com ele, fizemos inúmeras viagens em família.
Tivemos o Honda S600 até 1996, com mais de cem mil quilómetros. Muitas foram as vezes que viajámos até ao Algarve com ele carregadíssimo, já que a minha família era adepta de campismo. Foi com o meu irmão para a tropa e acabou por ir comigo também. O Honda S600 passou do meu irmão para mim, assim que consegui garantir a minha carta de condução. O mais impressionante do Honda S600 era que bastava um pequeno toque na chave e começava logo a funcionar.
Alberto Leitão, o piloto fascinante
Quando estávamos em Moçambique, as corridas de automóveis faziam as nossas delícias. Ao autódromo de Lourenço Marques acorriam centenas de pessoas sempre que havia uma competição.
O que mais me chamava à atenção era ver o piloto Alberto Leitão ao volante, que curiosamente conduzia um Honda S800. Conta-se que um dia estava nas boxes da pista com o capô do automóvel aberto e os japoneses repararam numa alteração no seu carro. Havia montado um radiador a óleo e naquela altura não era uma característica da Honda.
A Honda fez parte da minha vida nos meus melhores momentos. Até hoje recordo quando ao fundo da avenida, em Nampula, se ouvia bem alto o som de um escape e todos sabiam que estava a chegar um Honda.
José Ramalheira
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